Uma operação policial de grande envergadura desmantelou parte de uma organização criminosa especializada em fraudes com boletos bancários falsos que causou prejuízos milionários em diversos estados do Brasil.
O grupo, com sede em Goiânia (GO), utilizava contas bancárias de laranjas para movimentar os valores obtidos com os golpes, dificultando o rastreamento e a recuperação dos recursos. Acredita-se que eles tenham causado R$ 2 milhões em prejuízos.
O caso que deu início à investigação ocorreu em Laguna Carapã, Mato Grosso do Sul, onde uma empresária proprietária de uma lotérica sofreu um prejuízo de R$ 560 mil, ao pagar boletos fraudulentos diretamente no caixa do estabelecimento.
O crime, registrado entre os dias 29 de fevereiro e 1º de março do ano passado, levou à deflagração da Operação Código de Barras, liderada pela Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, com apoio da Delegacia Estadual de Combate à Corrupção (Deccor) de Goiás.
Quadrilha
De acordo com o delegado Erasmo Cubas, a organização criminosa era extremamente bem estruturada, com 26 membros já identificados espalhados por cidades de Goiás, como Goiânia, Iporá, Trindade, Itaguaru e Israelândia.
“O grupo recrutava pessoas para ceder contas bancárias e criava novas contas, usadas exclusivamente para os golpes. Os valores eram pulverizados em diversas contas e rapidamente transferidos para destinatários finais, dificultando o rastreamento”, explicou Cubas.
A quadrilha demonstrava alta expertise em fraudes financeiras, utilizando sistemas sofisticados para interceptar informações e enganar as vítimas.
“Eles tinham pleno conhecimento do funcionamento de lotéricas, das operações de boletos e de canais de pagamento. A rapidez com que atuavam era impressionante: em poucas horas, os valores eram desviados para contas de terceiros e usados em compras de bens ou investimentos em empresas de fachada”, detalhou o delegado.
As investigações, que duraram quase um ano, envolveram interceptações telefônicas, análise de dados bancários e técnicas avançadas de inteligência policial.
A operação culminou na expedição de 26 mandados de busca e apreensão e 6 mandados de prisão preventiva, autorizados pela Comarca de Dourados, Mato Grosso do Sul.
Na madrugada de ontem, mais de 100 policiais civis participaram da ação, cumprindo os mandados em cinco cidades de Goiás.
Três suspeitos foram presos, incluindo líderes do grupo, enquanto outros três conseguiram fugir e continuam foragidos. A Polícia Civil segue trabalhando para capturá-los.
Prejuízos
Além do caso em Laguna Carapã, as autoridades estimam que a quadrilha tenha movimentado mais de R$ 2 milhões em golpes semelhantes, afetando tanto pessoas físicas quanto jurídicas em diferentes estados.
“Esse é apenas um dos crimes que conseguimos vincular à organização. Estamos investigando outros possíveis golpes, já que esse tipo de grupo geralmente não se limita a uma única modalidade de estelionato”, afirmou o delegado.
Os prejuízos, no entanto, são difíceis de reverter.
“Recuperar esses valores é um desafio porque eles são rapidamente consumidos ou transformados em bens. Estamos trabalhando para identificar e sequestrar ativos relacionados à quadrilha, na tentativa de minimizar o impacto financeiro sobre as vítimas”, explicou Cubas.
A Operação Código de Barras segue em andamento, com esforços conjuntos da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul e Goiás para desarticular completamente a organização criminosa e identificar outros envolvidos.
A captura dos três foragidos é prioridade, e novas ramificações da quadrilha podem ser descobertas nas próximas fases da investigação.
Recomendações
A polícia orienta que os cidadãos redobrem os cuidados ao realizar pagamentos via boletos. Entre as recomendações estão verificar a autenticidade dos documentos diretamente nos sites das empresas emissoras, evitar clicar em links enviados por mensagens não solicitadas e confirmar informações de cobrança diretamente com a fonte, em caso de dúvida.
“Esses golpes estão cada vez mais sofisticados, e a melhor forma de se proteger é verificar cuidadosamente o que se está pagando. Registrar boletins de ocorrência é essencial para que possamos rastrear os responsáveis e impedir novos crimes”, concluiu o delegado Cubas.
Estelionato
O caso de Laguna Carapã é apenas um entre milhares registrados em Mato Grosso do Sul. Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) revelam que o número de boletins de ocorrência por estelionato tem se mantido significativamente em alta nos últimos anos.
Em 2023, foram registrados 13.733 casos, em 2024, foram 13.400. Neste ano, até o momento foram contabilizadas 492 ocorrências.
Esse tipo de crime começou a ser mais praticado a partir da pandemia da Covid-19, em 2020.
Em Dourados, a segunda maior cidade do Estado, a situação segue um padrão semelhante. Foram 1.494 boletins registrados em 2023 e 1.452 em 2024. No entanto, neste ano, até agora 51 casos foram computados.
Esses números destacam a crescente sofisticação das quadrilhas e a necessidade de atenção redobrada por parte da população. Fonte: Correio do Estado